24 outubro 2006

Com os ocidentais metidos na confusão

Nota de 1 yuan.

Globalização à moda antiga


O imperador Yongzheng (1722-1735), da dinastia Qing, modificou a até então dominante política de abertura aos ocidentais. Começou por proibir a “agressiva” actividade dos missionários nas províncias. Qianlong (1736-1795) restringiu progressivamente o comércio marítimo internacional, que a partir de 1757 só se podia fazer em Cantão.
O particularmente intenso comércio entre a China e a Império Britânico, embora limitado a Cantão, mostrava uma balança comercial desequilibrada a favor dos chineses. Essa situação foi modificada no princípio do século XIX, à custa das importações ilegais de ópio, de que os britânicos eram os principais agentes e beneficiários.
Um alto funcionário imperial, enviado (em 1839) propositadamente pelo imperador a Cantão para fiscalizar a situação, confiscou 20.000 caixas de ópio em armazéns dos britânicos. Esse e outros incidentes menores levaram os ingleses à guerra com a China: a “guerra do ópio”, cuja “primeira edição” começou em 1840. Os Chineses, em perda, aceitaram um tratado que concedia liberdade de comércio, que previa uma pesada indemnização a pagar pelos chineses e que entregava Hong Kong aos ingleses. Mas o imperador chinês recusou cumprir o tratado e a guerra continuou durante alguns anos, após o que os chineses se submeteram às condições.

O império em dissolução

Se as relações com os estrangeiros pesaram na desestabilização do Império, as condições internas também não ajudavam.
Por um lado, havia uma certa degradação do poder, simbolizada pela influência, crescente entre 1856 e 1908, da “imperatriz” Cixi (a favorita do imperador Xianfeng), que ficou regente depois da morte do titular.
Por outro lado, crescia a contestação interna. A mais importante das rebeliões deste período é a Revolta dos Taiping, que começou em 1850 na província de Guangxi e envolveu um exército de 600.000 homens e 500.000 mulheres. Os Taiping, liderados por um letrado que tinha chumbado no exame imperial, tinham uma ideologia inspirada pelos missionários cristãos e queriam proibir o jogo, o ópio, o tabaco, o álcool, a escravatura, a prostituição – e os pés enfaixados das mulheres chinesas. A Revolta dos Taiping foi dominada com a ajuda dos ocidentais, que preferiam tratar com um governo que já conheciam (corrupto mas conhecido) do que tratar com um governo “puritano” inspirado numa certa utopia com laivos de cristianismo.
A chamada “segunda guerra do ópio” tem lugar a partir de 1856, quando as tropas inglesas e francesas voltam a atacar para aumentar a sua influência e extorquir novas concessões comerciais: mais portos abertos ao comércio internacional, aceitação de embaixadas permanentes em Pequim. A ascensão de Xangai como novo pólo comercial, e ponte entre ocidentais e orientais, está muito ligada a este período. Em Xangai passou a haver duas zonas de comércio internacional “livres” do poder imperial: a “concessão internacional”, governada pelo Conselho Municipal; a “concessão francesa”, governada pelo cônsul francês.

A República substitui o Império - mas aos soluços

A segunda metade do século XIX não foi fácil para o Império Chinês: crescente poderio dos estrangeiros sobre o seu território (com novos apetites a entrar em jogo, nomeadamente os alemães), mais revoltas internas de grandes dimensões, ataques militares dos japoneses, perda de Taiwan, dissolução da capacidade de liderança imperial. Resultado: queda do império. Mas ainda faltava muito para acabar a confusão!
Em 10 de Outubro de 1910 foi proclamado o governo republicano provisório. A presidência foi entregue ao chefe do exército imperial que tinha sido enviado para reprimir os republicanos – e que tinha acabado por ajudar a derrubar o imperador, com a condição de ser o novo líder. O apressado presidente da república, que nada tinha a ver com o movimento nacionalista republicano, dissolveu o governo e modificou a constituição para se tornar presidente vitalício.
Como a oposição a essa "solução" era generalizada, o homem restabeleceu a monarquia e em 1915 autoproclamou-se imperador. Várias regiões começaram a separar-se, ficando governadas por senhores da guerra, num processo que envolveu novos conflitos internos durante vários anos. O general imperial que derrubou o império, que se tornou presidente da república e que depois se chamou a si próprio imperador, de seu nome Yuan Shikai, deu uma solução ao caso: morreu. Recomeçou, então, o processo republicano, que tinha sido originalmente lançado pelo médico de Cantão, cristão, que dava pelo nome de Sun Yat-sen e que tinha proclamado a república em 1911. No início dos anos 1920, o partido nacionalista (Kuomintang) era a força política dominante na China.


Nacionalistas e comunistas contra os invasores japoneses - ou não?

Em 1921, em Xangai, foi criado o Partido Comunista Chinês. O Kuomintang e os comunistas aliaram-se tendo em vista a resistência ao expansionismo japonês. A aliança rompeu-se após a morte de Sun Yat-sen em 1925, tendo o partido nacionalista passado a ser liderado por Tchang Kai-chek, anti-comunista e favorável a uma ditadura militar. A China estava em estilhaços, entre vastas zonas controladas por senhores da guerra que não obedeciam ao poder central, a guerrilha comunista que alastrava, a ditadura dos nacionalistas e a invasão japonesa da Manchúria (1931). Os nacionalistas estavam mais empenhados em combater a oposição comunista do que a invasão japonesa, mas foram obrigados pela força a um novo acordo com os comunistas (frente comum contra os japoneses). (O general que obrigou Tchang Kai-chek a esse acordo foi depois preso às ordens do próprio Tchang Kai-chek. Esteve preso 50 anos: primeiro na China, depois em Taiwan, para onde foi levado quando Tchang Kai-chek lá se refugiou. Só foi libertado depois da morte de Tchang Kai-chek em 1975.) Os japoneses invadiram o resto da China em 1937. Os chineses acabaram por só se verem livres dos japoneses quando o Japão foi derrotado pelos Estados Unidos no fim da Segunda Guerra Mundial.

República Popular da China

Seguiu-se a guerra civil entre nacionalistas e comunistas, ganha por estes. Em Pequim, a 1 de Outubro de 1949, Mao Tsé-tung proclamou, numa das Portas do Palácio Imperial, a República Popular da China. Que ainda lá está… e que agora vamos visitar.