31 outubro 2006

Xangai - Templo do Buda de jade

Construído entre 1911 e 1918 para albergar uma estátua Buda, em jade e com 2 metros de altura, é um dos poucos templos budistas em actividade em Xangai. O que vemos é a cabeça de uma estátua de Buda, mais pequena, reclinada (um Buda deitado, portanto).

Alguns dos guardiães que devem ajudar ao efeito global de protecção celeste...

Detalhes do templo, nos telhados e portais.


Leitor.

Orando.

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Caligrafia

Caligrafia, ainda no Templo do Buda de Jade. Caligrafia onde a luz mostra o seu espanto, onde a luz deixa uma marca de exclamação. Que espanto mostra a luz com esse sinal? Porque exclama a luz? Talvez pela nossa incompreensão.

Na China a escrita é um ramo das artes visuais, sem equivalente em nenhuma outra cultura. Os mais antigos testemunhos da escrita chinesa datam de há cerca de 3700 anos. As formas mais antigas eram inscrições divinatórias de que o soberano se servia para consultar os Espíritos sobre as grandes decisões do Estado. Essas primeiras inscrições traduziam conceitos e não falas. Pouco a pouco os símbolos foram-se aproximando da língua falada. A escrita chinesa mudou, entretanto, muito, mas mantém influência dessas origens.
Na China há escrita por todo o lado: em lugares de honra nos palácios e nos templos, nas paredes das lojas e das casas de chá, nas mais pobres casas da mais isolada aldeia.
Segundo certas opiniões, não é preciso saber ler chinês para apreciar a caligrafia. Pode apreciar-se a caligrafia sabendo como se escreve. Uma vez que cada caracter é composto por um número preciso de pinceladas, que devem ser dadas numa ordem precisa, podemos conhecer a dinâmica gestual que esteve na base de cada texto que vemos desenhado. E essa dinâmica pode ser apreciada mesmo sem compreender o chinês. O próprio conhecedor da língua chinesa pode ser colocado nessa situação, porque há uma forma de caligrafia (“escrita de erva”), uma espécie de estenografia frenética, que resulta quase indecifrável para a generalidade dos leitores chineses – mas é apreciada visualmente.
A caligrafia como forma de arte surgiu apenas no século III da nossa era, na época Han. A partir daí tornou-se uma disciplina, com teóricos, mestres, críticos, coleccionadores – até se tornar a mais prestigiada de todas as artes.
A caligrafia é executada com tinta, sobre seda ou papel, aplicada com um pincel – o que é um difícil exercício de controlo, requerendo concentração mental, equilíbrio físico, controlo muscular. Coisa para demorar muitos anos a dominar com alguma competência! A tinta, sendo instável (subtis matizes de brilho, negrura, profundidade, espessura, fluidez, secura, …), oferece inúmeras possibilidades expressivas. O papel ou a seda, sendo imediatamente absorventes, não permitem erros, nem hesitações, nem arrependimentos. Todas as tremuras do espírito ou do corpo ficam registadas.
Escrever: uma arte dos que apreciam a durabilidade do efémero.
(Texto baseado no capítulo 4 da obra de Simon Leys, Ensaios sobre a China, de 1998, com tradução portuguesa na Livros Cotovia, 2005)




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